terça-feira, dezembro 18, 2007

da necessidade


Bispo do Rosário
(Alguém acordou o meu dia com essas palavras. Com elas eu me senti mais leve porque mais sincera e também mais apressada porque necessitada. o que importa é que o dia foi desperto. ou que fui desperta para o dia).

trem


Viernes 3 a.m.
Charly Garcia

La fiebre de un sábado azul
y un domingo sin tristezas.
Esquivas a tu corazón y destrozas tu cabeza,
y en tu voz, sólo un pálido adios
y el reloj en tu puño marcó las tres.
El sueño de un sol y de un mar
y una vida peligrosa
cambiando lo amargo por miel
y la gris ciudad por rosas
te hace bien, tanto como hace mal
te hace odiar, tanto como querer y más.
Cambiaste de tiempo y de amor
y de música y de ideas
Cambiaste de sexo y de Dios
de color y de fronteras
pero en sí, nada más cambiarás
y un sensual abandono vendrá y el fin.
Y llevas el caño a tu siena
pretando bien las muelas
y cierras los ojos y ves todo el mar en primavera
bang, bang, bang hojas muertas que caen,
siempre igual,
los que no pueden más
se van.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

cadeira só


para uma defesa:

cadeira e só.

domingo, dezembro 02, 2007

"raspas e restos me interessam"...
Cazuza

sexta-feira, novembro 30, 2007

diário de um paranóico

o silêncio. o que fazer com o silêncio?
se é com ele e por causa dele que começo a ouvir passos?
o silêncio é o escuro da voz... (o escuro. o que fazer com o escuro? se é com ele e por causa dele que começo a ver coisas? o escuro é o silêncio do olhar...),
mas, o silêncio. o que fazer com o silêncio?
até o infinito.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Escrevilendo Lautréamont ou de como perder a cabeça

Se isso me feriu.
Se isso ficou sem nome.
Se isso é um todo indizível, inescutável, intragável.
Se isso é tudo.
Se isso é, é isso.
É isso de que não se fala.
É isso que ninguém diz que é.
Esse monte de palavras cruas, doloridas, arriscadas.
Esse tanto de gestos, de fatos, de atos, de corpos.
Fazendo aquilo que se pensa, que se quer e que, por princípio, por convivência, se cala.
Esse tanto de palavras brutas, sujas, que eu não quero.
Eu não as quero ouvir.
Mas é assim.
Isso é, por princípio, assim.
Isso do não querer. Funciona assim.
Vem sem escolha, sem possibilidade para qualquer tipo de fuga ou de esconderijo.
É a escrita (e a leitura) que te guilhotina.
Você foi condenado.
Quando percebe já perdeu a cabeça.
E já fazem segundos isso.
E você nem sequer teve tempo para suspirar.
E agora já fazem minutos que você não tem mais a sua cabeça para dar conta disso que está lendo.
Você pensa (com o que ainda resta do pouco de razão que te sobrou - sem saber se isso é bom ou ruim, ainda):
"eu estava lá. Fui espiar e acabei morto. Não pude optar por não querer".
E Lautréamont diz:
"isso de querer é coisa que te colocaram na cabeça, por isso cortamos a tua cabeça".
Aí você entende que não tem mais volta.
E se não tem mais volta decide não voltar.
Na verdade você não decide nada porque acabou de ser morto por um Lautréamont que caiu não se sabe da onde e que você não viu pois estava com a cabeça coberta. Que em seguida foi arrancada, tirando-te de órbita, impedindo suspiros, palavras, ou qualquer outra coisa, como por exemplo, uma decisão.
Agora, já quase que se fecha uma hora desde que se deparou com isso.
Isso que leu, isso que tentas escrever, isso que matou tua possibilidade de verdade.
Uma brincadeira de mau gosto, alguns diriam.
Ou talvez um susto.
Daqueles que são como uma ferida.
Um susto que arde.
Poderia ser também um pacote de presente vazio.
Você abriu e encontrou: nada.
Então fechou.
E encontrou a forma que envolve o vazio.
Pareceu-te simples.
Simples como um susto: te pegaram desprevinido, você não teve tempo de pensar (perdeu a cabeça), sentiu-se ferido e ardido por alguns segundos, o coração bateu em contra-tempo, e o susto passou.
Mas você nunca mais será como era antes.
Simples.
Efêmero e indelével.
Ao mesmo tempo.
Aquilo que você jura não pensar, jura não existir, finge não acreditar, está ali.
Posto para sempre, irreversível (indelével), fugidio, escorregadio, e indizível (efêmero).
Se isso te feriu.
Isso que tentas parar de ler.
Que debocha de ti e de todo mundo.
Que queima todas as cartas que tu tinhas na manga para falar sobre.
Se isso se passa contigo.
Isso passa,
se passou por ti, já era.
Você já morreu.
E não sabe mais nada
(e espero que agora tenhas certeza de que isso é um bom sinal).
Afinal já passaram-se duas horas desde que você perdeu sua cabeça.

quarta-feira, novembro 28, 2007

domingo, outubro 28, 2007

o preço

à vista
ou
a perder de vista?

segunda-feira, outubro 22, 2007

terça-feira, outubro 16, 2007

chuva guardada

as pessoas abrem seus guardas-chuva
sem nem mesmo.
não vão ao trabalho não saem de casa.
as pessoas abrem porque.
a chuva é fina.
a chuva refresca.
as pessoas os fecharão.
tirarão suas roupas.
se banharão.
água de chuveiro,
gurdas-chuvas
fechados.
água fina tintina.
lá fora.

quinta-feira, setembro 20, 2007

domingo, setembro 16, 2007

Dia - rio

"los que están en los diarios pueden desaparecer"
Charly García

quinta-feira, setembro 13, 2007

Diário

Fazer do dia, rio.

terça-feira, setembro 11, 2007

minha antropofagia para o amor em fragmentos (da Mari), que devorou os fragmentos de um discurso amoroso (do Barthes)

Sinceridade cruel:
Sorriso de lado de boca, sincero.
Detalhe:
Uma gritaria em volta, sussurro.
Ilusão:
Ferida aberta no corpo, sem doer.
Arrebatamento:
Uma pequena certeza e, já era.
Gesto:
Dançar com os olhos a espreita, silêncio.
Decepção:
Uma ilusão a menos, desencantados.
Ausência:
Roubo a única coisa que pode ser minha, o ausente em mim, meu.
Amor exigente:
Resisto ou desisto, desiste, tu.
Espera:
Sem palavras, cem palavras jamais ditas, não chegará.
Corpo:
Beber toda a água do mar e ainda poder mais, não se caber em si no transbordamento marinho.
Condescendência:
Outro sorriso de canto de boca, do outro lado, uma lágrima.
Vício:
Eu e eu e eu, mais de ti para mim.
Cartas:
A minha falta, a tua transborda.
O encontro amoroso:
Joelhos com joelhos, pra não caminhar.
Desejo:
Correndo por aí, derruba, fere e se vai.
Irmãs:
Brancas, no meu caso.
Etiqueta:
Quando percebeu, acabou. Era isso? nem boa nem ruim, apenas uma vida.
Ciúme:
Um prato que se come em grupo, temperado.
Intuição:
O entorno transborda, em mim.
Rubor:
As aves trocam suas penas, a duras penas.
Susto:
Com o coração na boca descobre, já não cabe mais.
Repetição:
E lá vem o mesmo disfarçado, de novo.
Apaixonado:
Aqueles que amam o crepúsculo mesmo sabendo, e talvez justamente por isso, que quando a noite chegar não terão casa para voltar. (e ainda assim, e talvez por isso, caminharão dançando).

sexta-feira, agosto 24, 2007

AA + PS

AA: onde é que eu já não caibo mais?
PS: a casa fica bem melhor assim.
sim sim
depois de um dia cheio de pequenas perguntas que não chegavam até a interrogação porque perdiam o fôlego antes de serem, fiquei a pensar nelas, novamente, mesmo sabendo que eu não saberia até onde elas poderiam ir, já que tinham final desconhecido. Assim constatei que as perguntas também são finitas, terminam como qualquer outra frase, com um ponto. qualquer. Então era outra ilusão. mais uma daquelas ilusões que a gente cria achando que apenas mudando o jeito de pensar mudaremos o jeito (estúpido) de fazer as coisinhas (estúpidas) do dia-a-dia. Mas as frases eram mais ou menos assim:
por que será que eu... (acabava)
mas então, será que seria melhor... (acabava)
uma pergunta: ... (fim)
e assim, durante todo o dia.
perguntas fugidias e não respostas inconsistentes.
mas também não é essa a saída.
constato.
o que será que será...

terça-feira, agosto 21, 2007

Encontro

Um encontro produz mudos.

domingo, agosto 05, 2007

(quase) brancos

tinham aqueles pequeninos de cabelos quase brancos que estavam a inventar palavras novas ao pé do meu ouvido. quase como um grito.
um dia eles foram embora matar saudade em outro lugar.
e então vieram alguns grandões de cabelos brancos mesmo que ficaram a inventar palavras mesmas ao pé do meu ouvido. quase como um sussuro.
e eu obedeci.

b(r)ancos

Primeiro vieram os bancos e com eles um bom almofadado para a acomodação.
Depois vieram os brancos e com eles duros encostos que nos faziam sair para caminhar.
E assim comecei a me lembrar.
Do que eu ainda não conhecia.

sábado, agosto 04, 2007

quarta-feira, agosto 01, 2007

inter(ven)(di)ção


de uns dias atrás.

um presente no presente,
num passado não remoto,
recente.

terça-feira, julho 31, 2007

domingo, julho 29, 2007

Para aqueles que se dizem artistas ComTempoRâneos

"você é um artista multimídia - não, eu apenas gosto de ser só um pouco ruim em cada coisinha que eu faço". (F. Jorge)

poesia de dia a dia (ou de noite a noite)

"Ao se deitar para dormir,
dormir" (A. Antunes)

sábado, julho 28, 2007

casa

Envoltar-se
Estar em volta e
Não estar.

Em volta para fora e
Dentro nada.

Alguém bate à porta
Ninguém (há)tende
Está em volta / em casa não


De(x)istir
Um existir
Desistido

Entornar-se
Tornar-se entorno.
Derrama-se ao redor

Em volta para fora e
Dentro nada.

Alguém bate à porta
Ninguém (há)tende
Está em torno
Derramado
Entornado.
Em casa já não
há.

De(x)istir
Um existir
Desistido

segunda-feira, julho 16, 2007

para esvaziamentos necessários


um monte de espaço de nada
pra quem gosta de lugar qualquer
sem lugar comum.
só formas sem fôrma.
sem nada de coisa nenhuma.
cheio de vazio esvaziado.
esgotado.
desbotado.
apagado.
não é pra ser imperceptível?
forma com coisa qualquer
tem dentro e fora.
essa coisa de máscara e rosto.
de essência e superfície.
de fundo e raso.
não é pra ser planície?
onde se percorre com os dedos.
ou com as pontas dos pés.
onde não se esconde
mas some.
espaço de nada,
pra alguns morada.
para outros nó,
na garganta,
difícil de engolir.

segunda-feira, julho 09, 2007

Padaria (nossa de cada dia)

Nada como um faroupilha
(e ele)
ao final do dia
...

quinta-feira, julho 05, 2007

caminando por rosario

...
"Y entonces vamos,
así en la vida con los restos del corazón
y no queremos que se nos note que
nos falta un poquito de amor"
... fito, sempre ele...

quarta-feira, julho 04, 2007

Carmem de Bizet, de Nietzsche e de Mérimée


(Dom José a queria deitada) Carmem
(flor vermelha, saia dourada, castanholas em pulso. Pulso firme. De sangue) Carmin
(Bem paradinha, ainda assim) Acalme
(acalmada. Aprisionada. Amarrada. Encarcerada) Carmem
(Fugia) Call me
(que no leito ou na morte. Porque lá estaria imóvel) Cal

(Dom José a queria) Carmine
(e ela queria a terra. Terra que)Acalma
(sem dono, sem teto, só) Alma
(o corpo aprisionado pede) Calma
Carmem
(pede sangue) Chama
(que no leito ou na morte)Terra:
(que no leito ou na morte fica com o) Cal

(porque lá estaria imóvel apenas para ele ) Carmem
(para ela estaria livre) Cal
(que no leito ou na morte fica com a)Terra

(Ou encarnada) Carne
(viva) Em carne
(viva) nada

Acalma
Te
(sem dono, sem teto, só) Alma
Carme – sim
(vermelha) Encarnada
(viva) nada

terça-feira, junho 26, 2007

sexta-feira, junho 15, 2007

infinito (na voz de uma criança)

tem uma história que é muito grande
(com os braços abertos)
ela se chama mundo inteiro.

sábado, junho 09, 2007

Carmen de Bizet, Carmen de Saura, Carmen de Nietzsche...

Carmen
Carmin
Acalme
Carmen
Call me
Cal

Carmen
Acalma
Alma
Carmen
Chama
terra

carmen
Cal
Terra

Acalma
Te
alma
Carme - sim

segunda-feira, maio 28, 2007

responder a um poeta não é uma fácil tarefa

a laranjeira fica prateada,
ora,
não importa se pela lua dessa noite,
ou,
se,
pelo sereno da madrugada.
a laranjeira fica prateada,
ora,
pois,
porque se deixa,
medeixas,
raios e gotas
abraçar.

quarta-feira, maio 09, 2007

Sras. e Srs.

Livramo-nos dos cicatrizantes
Livro-nos
livro

domingo, maio 06, 2007

sexta-feira, abril 20, 2007

ruim

sonhei que me roubaram a escrita
uma escrita que não era minha, claro
mas era com ela que eu escrevia.
e fiquei sem documentos
e fiquei sem carga
sem nada nas mãos
sem poder tentar.
talvez por isso
isso ficou
tão
ruim.

quarta-feira, abril 11, 2007

quando

Olhos
janelas da alma

pálpebras
cortinas dos olhos

quando eu for velha quero um aparelho de não ouvir
quero um piscar que não seja surrado
quero algo desacostumado

quando eu for velha

terça-feira, abril 03, 2007

vênus das peles

um amado de pedra.
sou uma amadora.
meu sangue está quente e seu coração bate.
o desejo segue o olhar,
o prazer segue o desejo.
suspenso em meus lábios
seu hálito acaricia minha face.
lhe contemplar os olhos,
ter suas mãos entre as minhas.
pertencer.
incondicionalmente.

vênus das peles

um amado de pedra.
sou uma amadora.
meu sangue está quente e seu coração bate.
o desejo segue o olhar,
o prazer segue o desejo.
suspenso em meus lábios
seu hálito acaricia minha face.
lhe contemplar os olhos,
ter suas mãos entre as minhas.
pertencer.
incondicionalmente.

amor

relação geográfica
o amor estava ali
da cabeça para baixo
de cabeça para baixo
ou para baixo da cabeça

não está nem com um nem com outro
nem entre.
tá na morte no limite
no desmanche

deitava em meu peito a cabeça cansada da vida
e agora me faz perder a cabeça,
bela dama sem misericórdia...

segunda-feira, abril 02, 2007

chega uma hora que.


querer

triste quer saber:
se sabe querer,
se é sábio o querer
se sabiá quer ver
se assovio pra ter?
triste quer querer:

sábado, março 31, 2007

versinho bobo

quem espera é ansioso
e nem um pouco paciente
porque se pára pra esperar
ta querendo adiantar

quarta-feira, março 28, 2007

OU

Não ter
Vergonha
E
Não ter
Nada a dizer
Ou
Ter vergonha
E ter
O que dizer
E
Não poder
Talvez
Por ter
O que
Dizer
E
Ter
Vergonha
Justamente
Por querer.

sexta-feira, março 23, 2007

Independe

Procuro sem pensar
Ou paro de procurar?

Cadeira macia com conforto,
Banquinho de tábua com encosto?

Se acordo não durmo
Se durmo, passa
Quando passa acordo,
E se acordo não durmo?

Se durmo, passa.

Deixo passar ou
Espero por esperar?

E se espero ou se deixo passar,
E se nada passa e nada deixa esperar?

E o que que eu faço pra tudo não parar?
E o que não faço pra tudo continuar?
E se fico parada e tudo pára
E se faço alguma coisa que em tudo esbarra?

E se descubro que parada ou apressada,
De que adianta,
Não importa?
Não faz diferença,
É coisa de nascença?
Vento na porta,
Que venta
E
Bate.
Movimenta e
Pára.

Independe.
Do que faço ou do que acho.

?

Hélice de helicóptero
ou máquina de lavar?

sábado, março 17, 2007

domingo, março 11, 2007

narciso

Digamos que eu só pense no que o eu pensa.
Ou seja, digamos que eu só pensa em mim.
Ta. Isso quer dizer que eu e mim fazem uma parceria para tentar se proteger.
Mas eles não sabem do quê.
Eu sei que é uma parceria o que acontece porque quando alguém parece nos atacar eu digo: “tu acha que a gente não fica chateado”?
é duro para a língua portuguesa esse jogo.
E é estranho porque, na verdade, quando digo “tu acha que a gente não fica chateado?” pode parecer que eu estou falando de muitos e assim pode parecer que eu entendo e convivo com esse negócio de ser vários e de mudar a toda hora.
Mas isso não é verdade.
O eu e o mim só pensam em si.

quarta-feira, março 07, 2007

sábado, março 03, 2007

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Quero porque gosto.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

terça-feira, fevereiro 13, 2007

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

terça-feira, fevereiro 06, 2007

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

vida

do futuro a gente só tem saudades quando morre.
morrer a gente morre o tempo todo.
por isso talvez seja bom ser um inteiro de corpos, disse um certo alguém.
vários corpos para morrer...

domingo, janeiro 14, 2007

quinta-feira, janeiro 11, 2007

A cidade de Despina

Os viajantes que descobrem a cidade de Despina, de Italo Calvino, a imaginam de acordo com o local de onde estão vindo.
Se vem vindo do deserto (o cameleiro) a vê como um navio - mesmo sabendo que é uma cidade.
Se vem vindo do mar (o marinheiro) a vê como um camelo, numa caravana - mesmo sabendo que é uma cidade.
o interessante é que Despina se despe para ambos.

Porto Alegre

domingo, janeiro 07, 2007

ECO

cambia tu papel
cambia tu papel
cambia tu papel
cambia tu papel
cambia tu piel